segunda-feira, 16 de junho de 2008

A pistoleira

- seu padre, preciso lhe falar,
na vida fiz coisas estranhas
e com a morte o que será?

Sou uma pistoleira de aluguel.
Pelas minhas mãos, muita gente
Retornou ao inferno e ao céu.

- minha filha! da vida e da morte
Não há o quê se esperar.
Tudo isso são coisas relativas.
e todos nós vamos morrer...

-Vejo que de todo
não conheçe meu ofício.
enquanto sem compromisso,
mais fácil era de matar.

E também!
era isso mesmo o quê diziam todos antes d’eu me converter:


- A vida é curta
E a morte rápida ao executar.
Sorria enquanto ainda é dia
de véspera do meu vingar.

- Nas veias verdes corre sangue
Nas vermelhas desejo de matar.
Eu já não temo mais nada
Nem mesmo minha maior aliada,
Pela qual passei a vida inteira a esperar!

Quando ela apareceu com a foice
Eu me fiz de rogada,
Baforou com seu hálito de alívio na minha cara

e chamei a danada pra duelar:

Ela com a navalha.

Eu com a metralha.

ela disse de lá:
vamos ver quem vai ganhar!
e eu de cá:
magrela, eu vou te aposentar!

(um baque de corpo e um relincho)

viajo o mundo que conheço.
ignoro, mas não esqueço a sensação
que minha mente foi buscar
pra me explicar aquele olhar da 'morte macaca'.

pobre morte!

morreu à gaguejar.

atingida, soltou a foiçe, acidentalmente
na cabeça do meu cavalo tchub-duwba.

e foi seu último assassinato.

boquiaberta, porém sem ar...
abraçou-me; ho santa, sorrindo,
e começou a me contar:
o segredo da vida.
o porquê de eu aqui estar.
de onde eu vim.
pra onde vou voltar.

em meus braços morre a morte.
e a mim passou seu encargo,
como sua substituta trabalho
sem ninguém pra me pagar.
e agora, com a vida o que será!?

hoje, eu estou de folga
por isso, aproveitei pra vir me confessar.
sinto muito vossa santidade
a manhã volto a trabalhar.

é bom o senhor ir se preparando
amanhã volto pra dar baixa.
sua bênção! até lá!