sábado, 15 de novembro de 2008


O OLHO ESTÁ EM REFORMA
DESCULPEM O TRANSTORNO!!!
    • o OLHO desde o fim 2008 estava em reforma e sem publicações. Porque tive uma idéia de mudar o visual do olho para O aniversário de um ano. Em 2009, consegui finalizar a arte que fiz pra ele e iria publicá-la no de dois anos e assim ele ficou inativo. Mas, a minha vida esteve muito agitada tanto que terminei viajando a trabalho no NOV passado e voltei em FEV sem conseguir uma pessoa para reprogramar o olhinho e quando eu voltei cheia de saudade do meu blog. percebi que ele deve ser simples e só ter o meu conteúdo, a minha voz. pois bem quando surgir suirgirá cansei de forçar o olho!!! publicarei numa velocidade compensatória a minha necessidade de olhar.

sábado, 18 de outubro de 2008

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Um tempo pra ser feliz

Com tanta descência
Com tanta dignidade
Chegamos até aqui,
entre tanto pode e não pode.
Com todo mundo olhando,
fica difícil correr nú.
enquanto as pessoas morrem...
uma pessoa da minha família morreu hoje.
uma força parou.
e todos vamos parando aos poucos.
até onde podemos ir?
foi pensando nisso e olhando todos os rostos,
pensando em muitas misérias,
que aprendi que todos nós precisamos
de, pelo menos, um minuto para ser feliz.
seja ele como for...
Já chega de tantas pessoas sem resolução,
de necrópcias,
de pernas amputadas,
de pressão alta,
de diabétis,
de Alzheimer.
é preciso um minuto pra lembrar dos momentos felizes,
como num sonho nítido:
rever aquele imenso, desmedido, primeiro e perdido amor.
ouvir aquela melodia.
reler aquele poema, carta.
receber ou dar um buquê.
passar um dia na praia com os amigos.
aquela tarde andando de bicibleta.
aquela tarde em família.
caminhar pela natureza, cultiva-la.
acordar cedo para sentir o cheirinho da manhã,
ou sentir todo o cheirinho da madrugada e ir dormir cedo, ás 6:00,
com aquela sensação de dever cumprido.
um banho de chuva,
pra pular e dançar na rua.
um feliz dia dos namorados,
acompanhada.
uma fulga,
pra voltar a ser adolescente.
voltar a ser criança,
pra brincar de esconde-esconde, com seus filhos.
eu nunca tive tudo isso, mas dos que tive...
se eu pudesse te dar um ou dois eu te daria.
qualquer um que você quizesse.
só pra te ver paticar a magia de amar,
despretenciosamente,
se entregar.
só pra te ver ter fé;
em si, no próximo,
no novo, no velho,
no presente, no futuro.
por isso,
só um miuto não seria o bastante
pra sentir o quê uma vida inteira não pode te dar.
isso é para dizer eu sinto muito...
por não ter cuidado melhor de você.
e porque eu não pude me despedir,
todos nós sintimos o peso dessa culpa!
embora, só eu diga...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Parabéns OLHINHO!!!





HeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeÊ


hoje vai ter uma festa: bolo,


novos postes, comentários pra você...


bjo olho,



já faz um tempo que tô muito feliz


com seu primeiro ano de vida e


por nossa borda de papel.


minha voz, aqui estão as lições que aprendi


e vivo para contar o segredo que guardo.


que eu perca a memória mil vezes


mas nunca esqueça a verdade e a beleza!


obrigada por me dar isso, olho.


Sou grata a todos os fuçadores que curtem meu blog!




O olhar

Os olhos atingem todos os níveis de percepção da consciência. Como olho físico, sua função é receber a luz, mas a terceira visão, ou o olho de Shiva (localizado nos intercílios) é receber a luz espiritual. No Bhagavad-Gita os dois olhos são identificados como o Sol e a Lua; o olho direito simboliza a atividade e o futuro - Sol; o olho esquerdo simboliza a passividade e o passado - Lua.
A alma teria dois olhos; um olha para o tempo e o outro para a eternidade; um seria a representação do amor e o outro teria uma função mais intelectiva. Platão, filósofo grego que viveu aproximadamente em 400 a.C., escreveu que "a visão não é apenas o que os outros podem ver na sua função apenas física, ele é móvel e suscetível a uma percepção muito mais global".
Na arte, um olho sem pálpebra é o símbolo da essência e do conhecimento divino e se inserido dentro de um triângulo é um símbolo maçônico e também cristão. Entre os egípcios o olho Udjat era um símbolo sagrado que se encontra em muitas obras de arte; considerado como fonte de fluido mágico é chamado de "olho purificador". Os sarcófagos são ornados em sua maioria com um desenho de dois olhos, pois acreditava-se que assim fosse permitido que o morto observasse o mundo exterior.
Você sabia que sua capacidade de ver é de 50%? Os neurofisiologistas sabem disto. A informação visual por meio dos seus nervos ópticos não percorre diretamente o córtex visual; ela é primeiro filtrada por outras áreas do cérebro. Os estudos sugerem que os outros 50% restantes são compostos a partir de nossas expectativas de como vemos o mundo. Nos primeiros segundos que observamos um objeto, nosso inconsciente envia uma mensagem ao consciente: se gostamos ou não do que estamos visualizando, se existe uma identidade e uma opinião do que vemos etc.
Os olhos são perfeitos no funcionamento do corpo humano. São extensões do encéfalo e as únicas partes visíveis para o mundo exterior. Sua função é parecida com o de uma máquina fotográfica que pode transmitir uma série de imagens de forma ininterrupta fazendo com que o cérebro descarte ou não as informações visuais. A imagem passa primeiro pela córnea, em seguida pelo cristalino, cuja função é focalizar coisas grandes ou não; uma espécie de zoom e entre eles um material líquido.
A íris define a cor dos olhos e também pode identificar se existe algum problema de saúde. A pupila é o diafragma do olho, abrindo ou fechando de acordo com a luz recebida. A retina é a camada de tecido repleto de células sensíveis a luz onde se forma a imagem visualizada. Estudos revelam que os clarividentes têm uma sensibilidade à luz e que durante os fenômenos mediúnicos suas pupilas muitas vezes encontram-se dilatadas.
O terceiro olho é considerado como "visão interior" que atua nos níveis espirituais. Esta manifestação acontece quando o sétimo chackra -- ponto de energia (localizado na moleira), sexto chackra frontal (localizado nos intercílios) e o chackra laríngeo (localizado na garganta) se justapõem-se, quando, por exemplo, uma oração é feita com muita fé formando vólices de energia.
A clarividência nada mais é do que uma percepção extrasensorial que engloba a visão, a audição e a capacidade mental de formar imagens deste plano, independente do passado-presente-futuro. O olhar é divino e corresponde ao olho do mundo: é a porta material e espiritual que abraça o cosmo, fonte de luz e conhecimento.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Rádio Renato Russo

O que arde melhor é o sal da vida.
colocado dentro de nossas feridas.
sem piedade.
assim se forma a sombra da maldade;
algo tão apodrecedor nas almas;
como uma maçã entre as asas.
Para nossa dor antiga seus créditos.
para a insónia favorita remédios.
Serve para o alívio da incompreensão,
livros inéditos que nada dirão.
serve para o alvite da inquietação,
wood allen com maridos e esposas.
resgata a fé no amargor a cada suspiro que você tomar, sting.
e mais fé no amor a cada vez que estranho amor tocar, renato russo.
obrigada.
por provocar as coisas que não acredito e não jogo no lixo.
por esfregar em nós um vazio e um calafrio de esperança.
é o problema que devemos solucionar,
a luta do dia-a-dia,
a retomada do elo perdido com qualquer mensão de alegria.
é tudo que a razão vai sabotar,
é tudo que se quer,
transgressão até a sola do pé.
por isso uma ou duas lágrimas sem soluços não vão raspar.
o prato...
da dor.
nem limpar nossos olhos do estúpido incompreendido e redentor.
amor.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A pistoleira

- seu padre, preciso lhe falar,
na vida fiz coisas estranhas
e com a morte o que será?

Sou uma pistoleira de aluguel.
Pelas minhas mãos, muita gente
Retornou ao inferno e ao céu.

- minha filha! da vida e da morte
Não há o quê se esperar.
Tudo isso são coisas relativas.
e todos nós vamos morrer...

-Vejo que de todo
não conheçe meu ofício.
enquanto sem compromisso,
mais fácil era de matar.

E também!
era isso mesmo o quê diziam todos antes d’eu me converter:


- A vida é curta
E a morte rápida ao executar.
Sorria enquanto ainda é dia
de véspera do meu vingar.

- Nas veias verdes corre sangue
Nas vermelhas desejo de matar.
Eu já não temo mais nada
Nem mesmo minha maior aliada,
Pela qual passei a vida inteira a esperar!

Quando ela apareceu com a foice
Eu me fiz de rogada,
Baforou com seu hálito de alívio na minha cara

e chamei a danada pra duelar:

Ela com a navalha.

Eu com a metralha.

ela disse de lá:
vamos ver quem vai ganhar!
e eu de cá:
magrela, eu vou te aposentar!

(um baque de corpo e um relincho)

viajo o mundo que conheço.
ignoro, mas não esqueço a sensação
que minha mente foi buscar
pra me explicar aquele olhar da 'morte macaca'.

pobre morte!

morreu à gaguejar.

atingida, soltou a foiçe, acidentalmente
na cabeça do meu cavalo tchub-duwba.

e foi seu último assassinato.

boquiaberta, porém sem ar...
abraçou-me; ho santa, sorrindo,
e começou a me contar:
o segredo da vida.
o porquê de eu aqui estar.
de onde eu vim.
pra onde vou voltar.

em meus braços morre a morte.
e a mim passou seu encargo,
como sua substituta trabalho
sem ninguém pra me pagar.
e agora, com a vida o que será!?

hoje, eu estou de folga
por isso, aproveitei pra vir me confessar.
sinto muito vossa santidade
a manhã volto a trabalhar.

é bom o senhor ir se preparando
amanhã volto pra dar baixa.
sua bênção! até lá!

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Os confundidos

Os confundidos


- estou cansada. Quase meia-noite.

- continuo de férias, posso acordar tarde.

- mas eu, não. Afinal, que importa? Suporto bem uma
Noite sem sono. Tenho passado outras.

- é uma alusão a mim?

- talvez.

- não fiz censuras, pergunta não disse nada. Desde o jantar que
Estamos calados.

- existe alguma coisa que fui condenada a ouvir hoje.
Sinto isso no ar, nas mãos. Espero, ao menos, que o horror
Tenha início antes que clareie o dia. Amanhã é terça, dia de trabalho.


Um de nos levantou-se, ou irá ainda levantar-se,
Entreabri a cortina, olhar a noite. O rumor dos veículos,
Continuado, ascenderá - ascendeu? - das avenidas, regirando
Na sala, sobre as aquarelas em seus finos caixilhos, sobre
As poltronas de couro com almofadas vermelhas, em torno do
Abajur aceso. As estrelas vibrando, parecendo abaladas pelo
Rumor da cidade que não dorme. Estamos de mãos dadas,
Qual destas mãos arde? Olhamos a parede vazia.


- hoje sofri novamente um ataque. Prometi nunca mais
Tornar a fazer isso. Mas não posso cumprir, simplesmente
Não posso. Veio com a mesma força de sempre. É abalador.

- então não há remédio.

- deve haver.

- tenho de viver até quando nesta danação? Vou esperar até o fim da vida?

- é preciso compaixão.

- novamente as palavras. Inúteis como sempre.

- não são inúteis.

-estou farta. Tínhamos passado três semanas sem essa
Coisa odiosa. Dias perfeitos.

- manhãs, tardes e noites nós estávamos juntos. Eu não
Podia duvidar... de mim.

- bastou eu me afastar algumas horas, para recomeçar
Outra vez. Então tudo o que faço é o mesmo que nos olhar
Olhos de um cego?

- quero explicar.
- prefiro não ouvir.

- tenho de ouvir.

- e por cima de tudo, ainda isto: uma ausência total de
Piedade. Admito que suspeite de mim, embora sem motivo. Mas
Por que confessar? É crueldade.

- quero ser sincero.

- desprezo até a náusea esse tipo de sinceridade.
Enjoa-me. Sinceridade, como? Entrego-me confio. Sinto os
Abraços, beijos. E que existe por dentro dos afagos? Tenho
Os olhos fechados. Minha boca está na minha boca. E dois
Olhos sondam-me. Isto é ser sincero?

- não suspeito de nada quando nos amamos.

- como posso saber? Como posso crer?

- estou dizendo: não suspeito de nada. Alguma coisa,
Quando estamos juntos, me restitui a confiança. Acho que
Assim vai ser eternamente, que toda sombra acabou e que não
Voltará a existir, entre nós, maldade alguma. De repente,
Vejo-me sozinho. E recomeço.

- porque não suspeitar quando estou presente? Posso
Estar aqui, comigo, nua e pensando em outro homem. Comparando
Em segredo o modo de abraçar-me. O jeito de...

- melhor não prosseguir. Destrói-se isso, esta
Segurança, a derradeira, a única, me resta o que?

- pouco se me dá. Para mim, nem essa, ao menos, existe.
Principio também a duvidar de mim mesma, já não me conheço,
Não sei mais quem sou.

- quem, com gestos nervosos, abrem a cigarreira dourada,
Bate comum golpe decidido e seco a tampa do isqueiro,
Depois de olhar a chama demoradamente? Um se levanta,
Anda, outro permanece sentado, depois este se ergue, atravessamos a sala, alguém volta a sentar-se, continuamos de pé, dorso contra dorso, junto.

- tomei banho. Foi talvez o tempo que está quente.

- sim. E passei a flanela na banheira.

- nunca fiz isso.

- é o que sempre faço.

- digo que o tempo estava quente. E logo em seguida,
Que a banheira está seca por causa da flanela que passei.
Porque as duas versões? São estas mentiras que destroem.

- não estou mentindo.

- estou!

- uma coisa tem que excluir a outra. Tudo isso é absurdo.

- a toalha também estava seca. Disse a mim mesmo que
Não tinha importância. Mas neste momento, já começara a lembrar-me das recomendações que me fizera. Para não sair, aproveitar as últimas tardes de férias, ficarem em casa preparando o trabalho sobre a correspondência de Lawrence.

- foi um erro. Com determinadas pessoas, é impossível não errar. Erra-se sempre.

- há parte de nós mesmos que não devem ser reveladas nunca. Mas é preciso que eu seja absolutamente sincero. Como Lawrence. Ele era sincero.

- não sou Lawrence.

- o que senti, o que sinto, é igual ao que me sucedia
Quando era menino e ficava sozinho. Excitava-me com o que?
Retrato de mulheres? Histórias licenciosas? Com a solidão.
Insensivelmente, irresistivelmente, eu buscava em mim
O prazer, um prazer aflito e imaturo. Para em seguida cair em
Depressão; e começar tudo, assim que me visse outra vez só
No quarto ou no banheiro. A solidão para mim era o mesmo que uma mulher nua. Agora, ela é como a presença de uma rival.

- não existe rival.

- quando estamos juntos, é também assim que penso. Não
Há outro, nem ouvem nunca, ambos nos amamos. Mas se me vejo
Só!

- tenho prazer em despertar compaixão.

- mereço compaixão.

Dirigi-me ao quarto de dormir, permaneço na sala, com vagarosos gestos ponho o négligé, afago o resto, a barba começa a apontar, volto para junto de mim, são leves meus passos, continuo sentado, não me levantei.

- é melhor acabar com tudo. Estou cansada.

- pensei que a insistência para que eu passe à tarde em casa era um ardil.

- não insisti.

- um ardil para que eu não saísse e não telefonasse.
Porque não me banhara se havia tempo? Desejava ganhar
Alguns minutos, meia hora que fosse chegar um pouco mais
Cedo a algum encontro ajustado há quinze dias, ou talvez
Combinado no hotel, num momento de ausência, talvez no
Cabeleireiro, ou na manicure, como se pode saber? Devo
Dizer que não telefonei.

- não acredito. Houve um momento em que foram me chamar. Quando atendi, haviam desligado.

- quem imagina que foi?

- não faço idéia.

- quem foi?

- não sei. Sinceramente, não sei.

- não telefonei. Mas vasculhei, uma por uma, todas as
Suas bolsas. Dizia a mim mesmo que estava fazendo uma
Insensatez, que poderia encontrar algum papel do qual não
Fosse culpada, mas que parecesse acusador e que isto me
Destruiria, e que afinal seria inútil, pois não tenho
Coragem de deixá-la.

- encontrou alguma coisa?

- isto: um nome de homem. Este endereço. Quero saber quem é.

- não me lembro.

- empalideci.

- quem não ficaria pálido? De cólera!

- cólera por que, se eu é que sou o ofendido?

- sou eu a ofendida.

- quem é este?

- ignoro. Talvez algum fabricante de calçados. Talvez
Seja algum cabeleireiro, recomendado por companheiras da
Repartição. Letra é minha. Mas não me lembro de haver
E que me ofereça um pouco de paz. Que não me torture e que
Não se torture os dias todos da vida. Com esta fome de
Posse, de propriedade. Com estes laços, estas armadilhas,
Estas navalhas de suspeita. Eu queria morrer!

- quem é o homem?

- pelo amor de deus! Não existe homem algum, homem
Nenhum outro homem. Nenhum.

- e este nome? Preciso saber.

- todo mundo encontra em seus papéis, de vez em quando, notas que não sabe para que tomasse.

- fazendo um esforço, termina-se por recordar.

- uma vez que o louco é irredutível, não pode escapar à
Loucura e agir como os sãos, estes condescendem em agir
Como se fossem doidos. Não por deliberação. Insensivelmente
E porque não podem ser de outro modo. é o mal de conviver
Com loucos. Pois esta é a miséria: estou fazendo o esforço
Que me peço, tentando recordar. Preciso sair disto.
Preciso, de uma vez por todas, sair disto.

- então porque não saio?

Levanto-me, olhos pesam de sono, vou ao mictório,
Levo um tempo enorme comprimindo o botão niquelado,
Ouvindo o jato violento da água, sentindo prazer nisso, deito-me.
Giro entorno do leito posto no meio do quarto. Giro interminável giro, e este caminhar é o menos que beber, devagar, um vinho insinuante.

- estou pensando em quando fiz uma operação nos rins.
Por que, sempre que há cenas assim, ele me doe?Fizeram-me um enxerto nos rins, com tecido cortado nos meus intestinos. E esperaram. Haviam feito o que tinham de fazer. O resto não lhes competia, não podiam forçar o tecido a viver em sua nova função.

- aonde eu quero chegar?

- não sei. Estou buscando um sentido para esta
Lembrança. Meu corpo reagiu, fez com que o enxerto não morresse. Sobrevivi. Sobrevivi pra que? Posso saber?

- tivemos eu e eu horas muito felizes.

- para o diabo com elas! Não quero horas felizes. Quero confiança e um pouco de respeito. Essa hora feliz vem cheia de veneno.

- tudo na vida tem seu lado meu.

- aqui todos os lados são maus, mesmo os que parecem bons. Aqui é o inferno.

Alguém abre as cortinas, corre as vidraças, e tudo permanece como antes, aqui é o inferno, o ar petrificado betuma esta janela aberta, aqui é o inferno.

- é o inferno. Acho que as pessoas, às vezes, sem o saber são lançadas em vida no inferno. Ficam girando em roda, passando eternamente sobre os mesmos pontos. Quero sair disso, não foi de modo algum para esse sofrimento que meu corpo reagiu a morte. Mas como, se perdi a identidade e não sei mais quem sou? Somos como dois corpos enterrados juntos, roídos pela terra, os ossos misturados. Não sei mais quem sou.

- é porque nos amamos. Estamos confundidos, cada um é si próprio e também é o outro.

- isso não é amor. Não se perde a identidade no amor. Mas no escritório, na vida coletiva; ou na demasiado solitária por falta de pontos de referência. No amor, pelo contrário, devemos reencontrar nossa identidade perdida.

- repito que, no amor, cada um é si próprio e é o outro.

- está bem. Que encontrei ainda, hoje, em minha busca, de si próprio e do outro?

- prefiro não falar. Isso passou.

- agora já me embriaguei, aderi à loucura. Quero saber.

Giro em redor do leito no qual estou prostrada, respiramos com dificuldade, não com exaltação, mas fatigadamente. Gostaria de ignorar estes passos que me cercam, passam em trono de mim ataduras de aflição, terror e desamparo, desejaria sentar-se, ou deitar-me ânimo até de erguer a voz, pedir que cessem os passos.

- levantei o colchão, para ver se encontrava algum outro papel, revolvi a cesta. Tentei escrever. Era impossível, a tentação de continuar a procura não me abandonava. Deixei de lado Lawrence e suas cartas, pus-me a folhear nossos livros. A esmo, e em seguida de modo sistemático. As mãos frias. Dizia a mim mesmo que estava cumprindo um ato injusto, mas não me continha, ai buscando, era como se eu precisasse encontrar alguma coisa. Foi um acesso, um ataque.

- achei alguma coisa?

- pétalas secas de rosa. Seriam de alguma rosa oferecida por mim?

- de certo.

- eu não sabia. Olhava-as, como se pudesse existir nas rosas ofertadas por outro, uma textura diferente. Havia um bilhete, sem o nome do destinatário. Igual a muitos outros que recebi ao longo destes anos, principalmente nos primeiros anos. Mas talvez aquele não fosse dirigido a mim. Porque estava ali?

- quem pode saber?

- toda essa busca é tão inútil! Para ter-se a verdade sobre alguém, seria preciso ver seu espírito. E isto é impossível. Essas buscas, essa perseguição, essas inquietações...

- quero amar de um modo simples, definitivo, seguro.

Este silêncio e o espaço entre nós. A voz que rompe o espaço e o silêncio, com dificuldade, lenta, articulando uma hipótese perturbadora. (o amor, talvez, é uma espécie de enxerto. Não nos rins. Em outra parte qualquer, talvez na alma, e cujo êxito não depende de nós. Por mais que desejamos salva-lo, pode apodrecer e envenenar-nos.) e novamente o silêncio, espesso, amortecedor, palha e serragem entre objetos de louça.


- estarei então envenenado? Estaremos envenenados?

- não eu. Eu. Sim, pode ser que também eu esteja. Como posso saber se não sei mais quem sou?

- é mais de meia noite.

- muito mais. Não tarda a amanhecer outro círculo. O sol é redondo. Redonda é a terra. Em torno da terra fazemos uma volta; e a terra outra volta em redor do sol. E nós giramos, giramos e voltamos sempre ao mesmo ponto.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008


DISSIPANDO A IRA...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Do sonho a melodia, da realidade a poesia.

Por Todos os gestos e Emoções,
eu escrevo para mim
tudo aquilo que eu sei,
tudo aquilo que acho certo.
Depois de ter invadido um futuro, agora meu.
Ha, cada letra doces versos;
sinto mais que eu sou eu,
Nove braços bem abertos.
Com os restos do que já sonhei,
eu construo novos passos
que até já caminhei.
E pra cada coisa que não fui,
meu perdão, meus desapegos.
Desde que me vi pela verdadeira vez,
eu aprendo a tolerar

tanto erros quanto acertos.
sentem que estou aqui,
sinto que estou mais perto.
Se estiver a te esperar,

ou Se não estou quieto.
Se você sabe pelo o quê eu passei:
um esforço a cada dia.
Palavras do coração,
de um jeito bem discreto,
aceita a vida como um romance!
Um romance em aberto...