sexta-feira, 23 de março de 2012

Notas sobre: Os empastelamentos do Diário de Pernambuco

Em sua trajetória, o Diário de Pernambuco foi sem dúvida um vetor político como quarto poder dentro estado e por isso foi vítima de censura várias vezes. Foi empastelado, depredado, teve exemplares rasgados e incendiados e deixou de circular por dias nos anos de 1911, 1912, 1931 e 1945.

Na eleição de 1911, Pernambuco assistiu a uma grande disputa entre o General Dantas Barreto, que controlava o estado há dezesseis anos e o abolicionista Conselheiro Rosa e Silva, do partido republicano. Desde 1901, Rosa e Silva foi dono do jornal que lhe garantiu prestígio e a vitória. Distúrbios políticos ocorridos no resultado daquela eleição fizeram surgir episódios violentos na cidade. Os opositores de Rosa invadiram o jornal, que teve sua sede depredada, ficando sem circular por 14 dias. A circulação é retomada para novamente para ser interrompida, o ‘Jornal não partidário’ assume uma posição contrária ao governo de Dantas, que havia anulado a eleição anterior. Portanto, sua sede foi invadida e “empastelada” por governistas. Desta vez, ficou fechado por 2 anos.

De 1913 a 1915 foi restaurado e reaberto pela família Lira, de longa linhagem de usineiros. Nesta nova fase, ficou claro que não lhe interessava nenhuma ligação com nenhum dos três grupos políticos ligados ao governo do estado. Desde já, Carlos Lira Filho assumiu a direção e foi assim por mais de 20 anos. Foi ele quem introduziu a propaganda para fins de desenvolver uma atividade social e econômica. Tudo ia bem, até a adesão do diretor ao partido republicano, isso provocou abordagens inócuas de fatos polêmicos entre 1922 e 30. O efeito disso na credibilidade do jornal foi devastador. Então, Carlos Lira Filho depois de longas negociações – mais um decreto de falência revogado – vendeu o periódico ao repórter Assis Chateaubriand que escrevia para sua coluna Golpes de Vista.

Quando o Diário de Pernambuco uniu-se ao grupo dos Diários Associados em junho de 1931 uniu-se também aos tramites políticos de Chateaubriand, os quais permitiram a reinvenção do Jornal. Mudanças que vão desde o número de páginas, ao conteúdo, a linguagem, campanhas de interesse social, seu tamanho passou a ser standard até o novíssimo formato de impressão offset. Mas, Uma suspeita sobre o posicionamento político do Diário contra o governo intervencionista e atritos com os tenentistas levaram aos seguintes episódios:

Em Outubro de 1931, o prédio do Diário de Pernambuco foi invadido pela polícia, havia ocorrido um levante no 21º batalhão de caçadores. Gráficos, jornalistas e diretores do jornal foram acusados de colaborar com a manifestação. Em seguida o jornal foi fechado. Dias depois, as prisões e a suspensão do jornal são revogadas por não haver indícios que comprovasse as acusações.

Na noite de 13 de setembro de 1932, o Diário foi invadido por dois policiais armados que ameaçavam agredir defensores do ministro José Américo, considerado “inimigo de Pernambuco”. O episódio acabou gerando um protesto da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que conseguiu quebrar a censura do governo estadual aos jornais pernambucanos. Livre da censura, o Diário de Pernambuco toma novo impulso e durante a II Guerra Mundial, o jornal passou a publicar semanalmente no horário vespertino um suplemento com notícias diretamente do “front”. Surgiram novos setores de notícias, passou-se a receber com exclusividade colaborações dos seguintes jornais internacionais : Chicago Daily News, United Press, Reuters, International News Service e British News Service.

Com o fim da Guerra em 1945, É sabida de todos a conturbada relação entre Chateaubriand e Vargas, isto fez surgir entre os Diários Associados, incluindo o Diário de Pernambuco, uma campanha contra a ditadura de Getúlio. Chatô, como era conhecido, fazia questão de salientar o papel do jornal como sendo de uma “praça forte da liberdade”. Porque na Praça da Independência, diante do prédio do Diário de Pernambuco, era onde a campanha acontecia e constantemente se faziam comícios.

Em 3 de março daquele ano, ocorre mais uma manifestação popular em frente à sede do jornal. O primeiro orador foi o estudante Odilon Ribeiro Coutinho. Depois, no discurso de Gilberto Freyre, na sacada do prédio, foi atingido Demócrito de Souza Filho, que estava ao lado do orador. A polícia havia disparado em várias direções, inclusive contra a multidão que assistia o comício também matando o operário Manoel Elias dos Santos, conhecido como Manoel Carvoeiro. Portanto, o Diário de Pernambuco foi mais uma vez “empastelado” pela polícia o redator chefe, Aníbal Fernandes, e outros jornalistas da equipe foram presos. Ficando 40 dias sem circular, retornando apenas por força de mandado de segurança. O fato gerou um inquérito que não levou a punição de nenhum integrante da polícia, alegando "crime de multidão". Sabe-se que o assassinato do estudante Demócrito de Souza Filho repercutiu contra a popularidade do governo Vargas. E Chatô, estava apenas começando a construir o que viria a ser o maior conglomerado de empresas de mídia do país.